Acabei de assistir à final do Abrendiz 6 Universitário. Suportei o sorriso robótico do Roberto Justus só pra saber quem afinal ia ganhar a tal peleja. Como um convicto espectador esporádico do reality, sabia alguma coisa de cada uma das finalistas, mas, como eu já disse por aqui, é no último episódio que tudo fica claro. Eles souberam muito bem desenhar perfis antagônicos, conflitantes, caricatas, quase. De um lado, Marina, uma impetuosa estudante de publicidade ("eles só querem ganhar dinheiro"), 20 anos, olhos azuis brilhantes. Na outra ponta, Karina, futura jornalista, 25 primaveras, merecedora de adjetivos do tipo "centrada", "sabe o que quer", além de gostar e saber trabalhar em equipe. Dionísio e Apolo na tela da Record.
Marina levou. O prêmio: um milhão de reais e um trainee na agência do Justus, onde vai ganhar um absurdo salário de "10 barão", como se diz(ia) por aqui no subúrbio. Assim fica fácil sacar o que eles esperam de quem está entrando agora no sufocante mundo corporativo né? Karina era a candidata perfeita. Sabe gerenciar, delegar funções, é objetiva e ponderada em seus atos e opiniões. Marina parace uma criança hiperativa, disparando o tempo todo clichês do nível de "não me contento com pouco", "estou aqui para vencer". Eles não querem um profissional preparado; querem uma espécie de potro bravio, à espera de um treinamento que os transforme em máquinas mortíferas. "Faço tudo para alcançar meus objetivos", "Primeiro eu, depois os outros", e por aí vai.
Espírito empreendedor não é isso. O circo do Roberto Justus o traduz em histeria, em inconsequência, em potencial vazio. Ser empreendedor é analisar, antes de agir. Se eu fosse a Karina, faria a descortesia de ignorar solenemente o eságio-consolação da Vivo e ia fazer o que um jornalista sabe fazer: mediar, traduzir, analisar, interpretar, provocar. Tudo isso, em outras bandas, onde seus talentos mais 'apolíneos' fossem reconhecidos.
2 comentários:
Por isso que nada que sai dessa suposta "televisão de realidade" nesse país podemos levar a sério. Triste, mas é verdade.
Caro escritor, eu acho que o mercado de trabalho se tornou tão especulativo quanto o mercado de ações. Nesse mercado, uma boa idéia vale o quanto pesa. Centenas de boas idéias que ajudariam milhões de pessoas devem ir pra lata do lixo se não forem dar lucro à pessoas ricas que simplesmente devem ser viciadas na onda que o rio de grana provoca nelas. O mercado de trabalho é uma piada. Explora suas necessidades básicas como argumento de motivação para superar metas e fazer valer cada mínimo centavo que a empresa paga a você. Antes, valia a assiduidade e até mesmo porque não dizer, ser boa praça e fazer a sua parte. Hoje, a competição está tresloucada e não é pra ganhar 10mil,hein? É so pra ter como dar algo, o mínimo, pra sua família. Acho que é só por isso que uma pessoa faz de tudo dia e noite pelas metas. Você precisa ter um bom motivo.
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